graphicadventures_livroQuando algum amigo me indica um jogo que eu não conheço, a primeira coisa que eu faço é dar uma espiadinha na Wikipédia. Sim, eu sei que as informações por lá não são 100% confiáveis, mas acho que são suficientemente precisas para que eu me aproveite da praticidade de consultá-la em poucos segundos, em vez de ficar fazendo buscas e mais buscas por outras fontes no Google. Depois, se eu quiser me aprofundar no assunto, vou atrás de outras referências.

A Wikipédia é excelente para consultas rápidas, mas também há algumas entradas bastante extensas e detalhadas sobre alguns jogos, e ler textos grandes no computador cansa um pouco (sem falar que sempre tem alguma coisa disputando a nossa atenção na tela). E às vezes tem tantos pequenos tópicos de interesse para se ler… bom mesmo seria colocar esse conteúdo todo num livrinho de dimensões modestas, que a gente pudesse levar de um lado para o outro e… opa, parece que alguém já teve essa ideia!

Um sujeito chamado Philipp Lenssen compilou um monte de artigos da Wikipédia sobre os bons e velhos adventures gráficos da Sierra e da Lucas Arts (hoje Lucasfilms). Os artigos foram devidamente revisados e, em alguns casos, editados e ampliados para inclusão no livro Graphic Adventures — Being a Mostly Correct History of the Adventure Game Classics by Lucasfilm, Sierra and Others, from the Pages of Wikipedia.

O subtítulo já ironiza a primeira reação de boa parte das pessoas diante da proposta, dizendo que a história contada está em grande parte correta — todos sabemos que a Wikipédia é editada por qualquer pessoa interessada, e que portanto suas informações não são 100% confiáveis. E sim, isso também significa que o livro praticamente todo (tirando os acréscimos de Philipp e umas poucas entrevistas com personalidades relevantes) é composto por textos que você pode ler de graça na internet.

As reações ao livro são as mais variadas possíveis. Dependendo de onde procurar opiniões, você vai achar gente que abomina a ideia de se vender um livro com texto disponível gratuita e publicamente e gente que adorou a ideia por sua praticidade. Afinal de contas, o texto pode estar quase todo na internet, mas parar na frente do computador para ler isso tudo certamente não vai ser tão agradável quanto ler num livrinho, deitado no sofá.

Seja qual for a sua opinião a respeito da iniciativa, acho que as acusações de que o sujeito estaria querendo ganhar dinheiro com o trabalho dos outros são totalmente infundadas. O livro, que tem 500 páginas e inclui fotos, custa 30 dólares na Amazon. Metade da renda vai para a Wikimedia Foundation, que é a responsável pela nossa amada e idolatrada Wikipédia. Philipp jura de pé junto que queria que o livro fosse ainda mais barato, mas que a política de preços da Amazon não ajuda.

maniacmansion

Todo mundo tem boas lembranças de Maniac Mansion, não tem?

Além do mais, o site do livro oferece uma versão gratuita, completa e com imagens, em HTML. Como o texto veio da Wikipédia, está licenciado sob a GPL, o que significa que você pode imprimir tudo e vender numa barraquinha aí em frente à padaria da sua esquina.

Eu dei uma olhadinha na versão gratuita. Após uma breve introdução, o livro se divide em três partes: jogos da Lucasfilm, jogos da Sierra e jogos de outras empresas. Seguem-se dois apêndices, sendo um deles com um texto (também disponível na internet) de Ron Gilbert, autor de Secret of Monkey Island, um pequeno glossário e mais algumas breves seções.

Cada adventure tem uma entrada própria, como se fosse um pequeno capítulo. Não houve um esforço no sentido de se padronizar as entradas, o que significa que o estilo fragmentado da Wikipédia transborda para o livro. Enquanto o jogo Mystery House apresenta as seções desenvolvimento e história, Full Throttle exibe história, jogabilidade, desenvolvimento, recepção e sequências canceladas. Apenas quatro jogos da série King’s Question foram contemplados (I, II, III e VIII), os outros são apenas listados na relação de títulos da série (será que Philipp não os considera clássicos?). Algumas entradas são sensivelmente menores do que outras.

phantasmagoria

Phantasmagoria não foi esquecido

Os jogos parecem estar organizados pela data de lançamento de suas franquias, e não dos títulos individuais, o que tem lá o seu lado positivo: é mais fácil consultar todas as informações sobre uma série de jogos, sem a necessidade de ficar pulando páginas. Por outro lado, justamente por seu jeitão de “aula de história”, teria sido mais interessante listar os títulos por ordem cronológica individual. Talvez a natureza variada de cada texto tenha dificultado o encadeamento das ideias dessa forma.

Apesar das falhas, o livro continua sendo uma ótima pedida para quem procura uma leitura leve e divertida sobre vinte e tantos anos do gênero. Certamente há fontes mais confiáveis a serem consultadas, mas você provavelmente vai ter que correr atrás de uma meia dúzia de livros diferentes para ter uma visão tão abrangente do estilo. O caráter enciclopédico e na maioria das vezes sucinto das entradas do livro, indo “direto ao assunto” (ou seja, aos jogos), o torna bastante acessível e fácil de ler. Quem nunca se sentiu motivado o suficiente para pesquisar mais a fundo sobre o gênero até hoje pode aprender um bocado de coisas com ele, sem muito esforço. Se fosse mais baratinho eu compraria numa boa.

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UPDATE: o autor me disse por email que alguns jogos tiverem que ficar de fora por questões de espaço (afinal de contas, o livro já tem quinhentas páginas do jeito que está).

“Wikilivro” conta a história dos adventures gráficos
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8 ideias sobre ““Wikilivro” conta a história dos adventures gráficos

  • 05/08/2010 em 12:00 pm
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    Essa questão de vender conteúdo da internet compilado em livros é um pouco polêmica mesmo…

    Pessoalmente, não vejo nada demais nisso, até pela praticidade e pela organização.

    O livro parece mesmo ser interessante (ainda mais para alguém que não conhece muito o gênero, como eu). Mas no momento estou na mesma situação do 64Gamers…

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  • Pingback:Tweets that mention Gagá Games » “Wikilivro” conta a história dos adventures gráficos -- Topsy.com

  • 06/08/2010 em 4:41 pm
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    Nossa, joguei no mínimo uns 15 desses jogos do livro até o fim. Muita nostalgia… destaque para alguns clássicos desconhecidos como Return to Zork, Beneath a Steel Sky. Mês passado pude conferir por inteiros os remakes de Monkey Island 1 e 2… aconselho, especialmente o 2, é um dos melhores adventures de todos os tempos. Eu ainda acrescentaria alguns outros adventures nesse livro, como a sequencia do Tex Murphy, Under a Killing Moon, o famoso na época 7th Guest ou O Sétimo Convidado, e o adventure com um dos melhores enredos que já vi Sanitarium (me lembrei dele ao olhar o filme Shutter Island com Leonardo Di Caprio esses dias, grande filme).
    Aconselho esses jogos que citei aos adeptos dos adventures. Ótima dica, Gagá, já baixei vários para relembrá-los enquanto “trabalho”… como sempre ótimos posts.

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  • 06/08/2010 em 7:30 pm
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    O único adventure que já joguei foi o primeiro Sam e Max(quem aí curte? :P), fui até que bem longe, mas travei no final pois o jogo era bem dificil que eu lembre, o gênero parece ser bem interessante, mas acho que prefiro ficar com outros menos complicados hoje em dia ^^

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