Falar sobre Duke Nukem antes do famoso Duke Nukem 3D é como falar em história da humanidade antes da invenção da escrita – ninguém liga muito e são poucos que sabem alguma coisa a respeito.

No início da década de 90 os computadores (mais especificamente, IBM-PCs) encontravam-se em plena expansão de capacidades. Placas EGA, VGA, processadores 386 ficando acessíveis à grande massa e placas de som até mesmo estéreo invadiam lentamente sua loja de hardwares preferida. Entretanto, em época de transição, o conservador é rei – em outras palavras, por vezes é mais inteligente manter a compatibilidade com o hardware não tão top de linha, mas, ao fazê-lo, alcançar um número maior de consumidores em potencial. Esse foi o caminho que a Apogee escolheu.

Duke Nukem é um personagem estereotipado ao extremo, chegando a ser mais cômico do que levado a sério. Eis que lhes apresento sua orgiem nestes dois jogos que, apesar dos pesares, me prendem até hoje em frente ao PC.

Limitações (técnicas e criativas)

Todo retrogamer que se preze sabe que jogos de plataforma em PCs eram um desafio pesado que só foi superado com o lançamento de Commander Keen, em 1990. Apesar disso, não é por uma desenvolvedora ter superado o obstáculo que as demais também o fazem rapidamente. 

DN1 possui um scrolling “duro” que chega quase a dar dor de cabeça. Ao invés da tela rolar de forma flúida, a movimentação é feita em blocos de 8×8 pixels, o que, convenhamos, não passa aquela sensação de 60fps à qual nos habituamos ao longo dos anos. Mas, naquele tempo, nós costumávamos perdoar esse tipo de coisa.

Contrariando isso, parece que a Apogee queria provar ao mundo que havia criado algo revolucionário, como podemos ler na parte traseira da caixa de DN1:

"Esse é um jogo fabuloso em estilo Sega Genesis (Mega Drive) com animações
incríveis! O título conta com dual scrolling (vert/hor) e
backgrounds pseudo-3D"

Ok, o segredo do negócio é o negociante e não o produto em si, porém acho que mais legal seria ter jogado limpo, dizendo que o jogo é amplo, bem trabalhado, e evitando comparações infelizes com o 16-bit da SEGA.

Deixando de lado os aspectos técnicos não tão avançados mesmo para 1991, surge a infelicidade de uma prática muito em voga naqueles tempos: a reutilização de gráficos. Até recentemente eu não sabia, mas DN1 tomou “emprestados” gráficos de outros títulos como a versão de PC de Mega Man – jogo que eu também desconhecia até tomar conhecimento do fato citado. Aliás, o “tomar emprestado” vale também para a sequência, Duke Nukem II, também abordada neste post.

Exemplo de gráficos “emprestados”

Lamentável? Talvez, mas atualmente o mesmo acontece com as centenas de jogos criados com engines como UDK e Unity aos rodos. Reaproveitamento de gráficos não é condenável, embora eu considere fator que afaste o jogo de possíveis halls da fama.

Para finalizar as “coincidências”, há um fato curioso: a versão 2.0 do DN1 teve seu nome modificado para “Duke Nukum”, pois no desenho “Capitão Planeta” já havia um personagem com o nome Duke Nukem. Porém, como depois os caras da Apogee descobriram que o tal personagem não era registrado, voltaram para o título original, que aliás soa muito bem, ao contrário de “Nukum” que fica com cara de “não é esse o título que eu gostaria, mas, fazer o que…”.

História

Estamos em 1997 (o que era o futuro na época) e o gênio/cientista “Dr. Proton” — anteriormente atendendo pelo nome Blunderwitz — deseja dominar o mundo, fazendo uso de um exército de robôs e expandindo assim seu império, até então contido. Tudo isso em decorrência de um acidente envolvendo o vazamento de radiação que alterou o cérebro de nosso novo amigo Proton.

O vilão, como manda o tipo da história, possui um esconderijo “secreto”, até então impenetrável pela polícia, exército, LBV etc… a quem chamar numa hora dessas?

Prepare-se para muitos cenários quase cyberpunks

Duke entra em cena, contratado pela CIA para livrar o mundo das garras do terrível Blunderwitz, tudo em estilo “agir antes, pensar depois”. Acontece que, ao terminar o primeiro “episódio” em DN1, somos obrigados a seguir o vilão até sua base na lua. E se a lua não for o bastante, por que não… o futuro? OK, que seja o futuro então, pois é lá que continuamos nossa caçada no terceiro episódio.

Terminada a primeira aventura, Duke, nosso simpático e humilde amigo, estava dando uma entrevista sobre sua autobiografia “Why I’m so great” (algo como “por que eu sou o cara”) quando é misteriosamente raptado pelos terríveis Rigelatins, um povo alienígena que busca dominar a terra.

Duke II está mais bonitão

Como podem ver, na falta de um clichê, por que não apostar logo em uma baciada deles? Mas quem me acompanha aqui no Gagá sabe que relevo essas coisas caso o jogo se justifique em jogabilidade, o que acabou sendo o caso.
Em DN2 a Apogee também fez toda sua propaganda “gráficos nunca vistos antes” e, bem, ao menos o jogo é de fato bastante bonito, mas esses detalhes cabem ao próximo tópico.

Gráficos/Áudio

Deixando de lado o lance dos gráficos reutilizados, Duke Nukem 1 e 2 são jogos belos para suas respectivas épocas.

No primeiro título os gráficos EGA, embora já levemente datados, não fazem feio, não deixando espaço para reclamações. Os cenários são variados e os objetos são diversos – e muitos bastante absurdos. Os sprites de inimigos e do próprio Duke são simples e de proporções modestas, como era mandatório. A pouca variação de cores não é exatamente culpa dos desenvolvedores, então considero o conjunto como competente.

Em DN2 a coisa fica bem bonita. Já exigindo uma placa VGA para ser jogado, o título pode se dar ao luxo de usar um maior número de cores na tela, o que proporcionou cenários muito trabalhados. As animações agora são fluidas – embora o scrolling ainda peque — e, como a mecânica de jogo permanece a mesma, quem jogo o primeiro game ficará contente com o segundo.

Os inimigos chegam a ser bastante grandes e as explosões são bem feitas. Não joguei esse título na época, mas acredito que deva ter impressionado bastante, ao menos graficamente falando. Tivesse continuado nesse caminho e Duke Nukem poderia ter se consagrado como uma grande franquia de platformer, ao invés de migrar para o mundo dos FPS.

A trilha sonora, ausente no primeiro título da série, aparece em DN2 no melhor estilo MS-DOS que poderíamos esperar. Agora sim a Apogee podia dizer que chegou perto do Mega Drive em alguma coisa. As músicas são simplesmente fantásticas e criam um clima muito bacana para o jogo!

Em questão de efeitos sonoros a série esteve sempre de acordo com seu tempo, nunca fazendo feio mas também não é o que podemos chamar de “sonoplastia” genial.

Jogabilidade/Mecânica de jogo

Se até aqui você, amigo leitor, achava que Duke Nukem não era muito original, chegou a hora de repensar: em qual outro jogo você ganha energia bebendo refrigerantes e comendo frangos assados? Está certo, talvez o frango você já tenha visto, mas quando dar um tiro numa cocha a transformaria em um frango assado inteiro? Simples, quando você desejar preencher mais de uma barra de energia!

Até esse ponto já deve ter ficado claro que Duke é uma série que nasceu de forma meio estranha e quase que “despretensiosa ao avesso meio ao contrário”. Mas, apesar de quadrado, cheio de “falhas”, a coisa joga bem.

Como em todos jogos do gênero, você deve saltar de plataforma em plataforma e transpor inimigos/obstáculos pelo caminho. Um lance que dá um “toque” FPS é a presença de chaves coloridas para portas coloridas. Algo quase como um Doom 2D nesse ponto. Vale lembrar que estou citando a jogabilidade de Duke I e II, uma vez que são muito semelhantes.

Há inúmeros power ups e incontáveis câmeras de segurança (se você destruir todas, garante um bônus no fim de cada fase). A partir de DN2 você ganha a opção de atirar para cima, alcançando assim câmeras em locais impossíveis de se acertar de outra maneira. Os inimigos, apesar de variados, não possuem grande inteligência artificial, o que também não chega a ser problema em jogos deste gênero.

Talvez a grande mágica em Duke Nukem esteja no fato de ser fácil de jogar, no sentido de que não requer muito esforço para desvendar mistérios. É quase como um campo minado de plataforma, depois que você decora os números cercando cada mina – dá pra jogar sem problemas enquanto falamos ao telefone com alguém sem que esse alguém perceba.

Acredite, o parágrafo acima é escrito ressaltando o fato como algo positivo. Jogos deste tipo são necessários e possuem sua beleza 🙂

Conclusão

Antes de Duke Nukem 3D, a série tão duro na queda não era muito notável pois, convenhamos, não trazia grandes inovações. Porém temos de levar em conta que, em 1991, eram poucos os platformers a saírem para PCs, então Duke foi uma franquia muito bem-vinda.

Temos um personagem que daria a vida para ser o Terminator, uma história batida, gráficos não originais e… uma jogabilidade que salva o dia, mesmo que seja por sua simplicidade. Você poderá matar sua curiosidade baixando os ports que ambos jogos ganharam para iOS, ou mesmo baixando a versão shareware para PC e se virando para configurar um DOS-BOX (que provavelmente roda perfeito com as configurações padrão).


Vale a pena? Bom, valeu em 97, quando baixei o demo no finado site gamesdomain e já havia enjoado de outros jogos no meu 486. Um jogo de plataforma mediano que pode te distrair durante algum tempo, mas, como já enfatizei, não é aquela pérola no mundo dos games. Possui, entretanto, um valor histórico. Em Duke I e II conhecemos um pouco mais do personagem que, de sua própria maneira, tornou-se um ícone dos videogames.

Duke Nukem I / II (MS-DOS)
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10 ideias sobre “Duke Nukem I / II (MS-DOS)

  • 14/06/2012 em 9:31 am
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    parece ser um bom game para eu experimentar. mas sinceramente não curto o Duken, ele é arrogante e metido demais, até para um herói. sem falar que as fases são dificeis de passar. jogava ele no N64 com cheats e ainda sequer passei da segunda fase até hoje. e esses gráficos “copiados” do Mega Man…ele é tão folgado que não duvidaria se ele mesmo tivesse roubado.

    post excelente de ler como sempre.

    Hee-Hoo 🙂

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  • 14/06/2012 em 11:29 am
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    Cara, belíssimo post.
    Eu tive contato com o Duke I e II em 1997 também, através do CD do Duke Nukem 3D que peguei emprestado de um amigo.

    Os jogos vinham completos, como bônus na versão 1.3D em CD do jogo. Acho que o Duke3D, ao lado do Doom 2, foi um dos jogos em que mais me viciei na vida. Eu pensava no jogo o dia inteiro, sem parar. Não podia ver um bebedouro que tinha de parar pra “recuperar energia”. Bons tempos, hehe.

    O Duke II deve ter sido fantástico em seu lançamento. Lembro que me empolgou muito em 97, e ouso dizer que apresentava gráficos e sons mais avançados que os 16-bits da época. Mas essa é só minha opinião.

    Grandes jogos, estes. Qualquer fã que se preze deve jogar ao menos o segundo título. A trilha sonora é totalmente empolgante!

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  • 14/06/2012 em 4:13 pm
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    Eu tive contato com estes jogos mas joguei bem pouco. Além dos defeitos citados, se tratando de jogos de PC, DN 1 e 2 eram bastante simplórios para época. Teve um jogo da Epic MegaGames chamado Jazz Jackrabbit que era de plataforma também, e era muito melhor que DN. Na verdade DN brilhou mesmo na sua versão 3D, chutou todas as bundas, inclusive do poderoso Doom da Id Software. Mas hoje em dia eu acho que DN 1 e 2 tem seu valor e seu charme. Falow! 🙂

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  • 14/06/2012 em 5:10 pm
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    Valor histórico e para fãs.
    Curiosidades sobre esses títulos. Acho longe de ser bons gráficos,mesmo para época.
    E recuperar energia com bebiba,Two Crude Dudes (arcade e mega drive),não só recupera a energia como também tem que socar a maquina de bebidas para a latinha sair e se você tiver em um mal dia pegar a maquina e bater nos outros.FODA!

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  • 15/06/2012 em 2:52 am
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    Tambem joguei pela primeira vez esse Duke Nukem em 1997, inclusive conheci esses jogos antes de Duke Nukem 3D que chutou a bunda de Doom na época como bem disse o Piga! Na época joguei a versão shareware entao não pude terminá-lo. Estou com os dois aqui no pc a anos mas ainda nao tive tempo de jogar, quem sabe agora eu nao animo. É estranho ver que o Duke nas suas origens nao usava óculos escuros ahah, e o vilão Dr Proton retornou recentemente em uma DLC para Duke Nukem Forever.

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  • 15/06/2012 em 11:36 pm
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    Lembrando o duke nukem 2 foi portado para gbc não sei se tem o msm nome mas a historia é igual e ele é de plataforma tmb eu joguei ele bastante no dingoo ate que um boss me tranco ele é um bom jogo na época eles duke ja chutava bundas mas dos jogos em plataformas kkkkkkk

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  • 16/06/2012 em 3:32 pm
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    A primeira impressão que tive dos jogos da Apogee é que eles eram todos iguais, mudando uma coisa aqui ou acolá, mas não pela “clonagem” de cenários mas sim por conta da limitação técnica.Diante dessas informações que você passou acho que a primeira opção é a correta…Mas isso não é exclusividade dos games ou da Apogee.Vejam esse vídeo (se o modera permitir) e vocês entenderão o que estou falando => http://www.youtube.com/watch?v=H7kcqB3thJM&feature=player_embedded
    E então:é compreensível ou não a clonagem?

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