Todo mundo sabe que a geração dos 32 bits foi a era dos RPGs tridimensionais. Depois que a Square lançou Final Fantasy VII para o Playstation em 1997, todo mundo queria lançar um RPGzinho com heróis e criaturas poligonais. Não que os polígonos fossem muito bonitos nessa época, mas os sprites caprichados da era dos 16 bits representavam o passado: os personagens “quadradões” eram o futuro.

Obviamente, sempre existe aquela turma que quer mesmo é um RPG tradicional, à moda antiga, sem alarmes e sem surpresas. E para essa turma que acreditava que os velhos e caprichados sprites ainda tinham muita lenha para queimar, a Sunsoft lançou um pouquinho antes de FFVII o ótimo Albert Odyssey: Legend of the Eldeans.

Quando Belnard aparece logo no início do jogo você já fica babando com o sprite bem animado do dragão voador dele

Este RPG começou sendo desenvolvido para o Super Famicom (que já tinha dois títulos da franquia), mas no meio do caminho o projeto migrou para o Saturn. A Working Designs, então famosa pelas esmeradas localizações de jogos japoneses para o mercado ocidental, se encarregou de levar esta pérola para a turma que fala inglês. O texto ficou bem descontraído e divertido, mas há quem reclame que o tom humorístico passou um pouco da conta e que o script foge ao clima do jogo original em japonês. Eu só sei dizer arigatô em japonês, então não vou me meter nessa discussão ^_^

Se você quiser ter uma boa ideia do que seja Albert Odyssey: Legend of the Eldeans, imagine como seria se o Super Nintendo tivesse um CD ROM e Tales of Phantasia tivesse sido lançado para ele. Ou seja, temos um RPG com cenários lindos, sprites belíssimos entupidos de quadros de animação, trilha sonora orquestrada de altíssima qualidade, combates cheios de vozes… Albert Odyssey é isso aí mesmo, um RPG tradicional que se farta com a ampla memória disponível no formato CD.

A história gira em torno do herói Pike e de seus carismáticos amigos. E aí você me pergunta: se o herói do jogo se chama Pike, quem é esse tal de Albert do título? Bom, o Albert é o herói do primeiro jogo, lançado para o Super Famicom. Se você chutou que Pike é descendente de Albert, errou: essa glória fica para Guy, um NPC que é um dos mais valorosos cavaleiros do rei. Não posso explicar muito bem o porquê sem estragar o fim do jogo, mas o lance do Pike não ser descendente do Albert é a grande sacada da trama, como vocês vão entender lá pelo final.

Foto batida da TV do Gagá… isso sim é um review à moda antiga ^_^

O jogo em si é um RPG basicão. Você entra nas cidades e conversa com todo mundo, mas para fugir às falas genéricas e entediantes típicas dos RPGs japoneses, a Working Designs parece mesmo ter dado uma calibrada humorística nos diálogos de todo mundo. Todos têm algo engraçado a dizer, e a gente cai na já referida polêmica sobre a falta de fidelidade ao texto original. Sejamos francos, às vezes as piadas cansam, mas alguns lances são muito, muito divertidos, como quando um dos mocinhos fica sacaneando o vilão no alto do forte zoando a mãe dele. Seja como for, certamente ninguém reclamou quando a WD conseguiu reduzir pela metade os enormes tempos de carregamento do jogo, o que por si só já garante que a versão ocidental dê de dez na oriental.

O combate é por turnos, com visão típica dos Final Fantasies antigos. Os efeitos visuais das magias não têm muita variedade nem impacto, mas os sprites dos heróis e dos monstros contam com vários quadros de animação (triste é ter que esperar o breve mas irritante loading da animação de morte dos inimigos sempre que você derruba um). Os cenários de batalha são muito bons, e o céu em particular é muito bem animado.

Além dos gráficos excelentes, que já devem bastar para que qualquer fã de RPGs old-school encare o jogo até o fim, a trilha sonora também é um ponto alto. Os temas orquestrados não ficam na sua cabeça como as melodias assoviáveis de Final Fantasy VI, mas são uma BAITA música de fundo. Alguns temas são muito bonitos, e dão o clima especial que as cenas merecem. Até os temas mais descontraídos, como o das lojas de itens, caem bem pra caramba durante a jogatina.

Essa piadinha com o Bruce Lee rendeu umas boas risadas aqui em casa…

Uma crítica comum ao jogo é que a diversão dura pouco. A aventura não é lá muito longa (acho que Final Fantasy VII deve ser umas três vezes maior), praticamente não há sidequests (eu só achei uma) e a dificuldade não é muito alta. Isso tudo certamente não seria muito legal se eu tivesse comprado o jogo quando era moleque e podia passar o dia quase inteiro jogando (eu terminaria a aventura em três, quatro dias e nunca mais jogaria de novo).

Mas olhando hoje, quando (creio eu) a maior parte dos leitores do Gagá Games tem que trabalhar o dia inteiro e não tem lá muito tempo para jogar, eu acho que a “sobriedade” do jogo cai bem e é um de seus trunfos. Mesmo jogando poucas horas por dia, você pode terminar Albert Odyssey tranquilamente em menos de um mês. Confesso que até eu, que sou louco por RPGs, ando preferindo esses menores, que eu posso acabar mais rápido. Fora que, convenhamos, hoje em dia ninguém mais paga para jogar Albert Odyssey: todo mundo já sabe onde baixar a ISO, não vamos ser hipócritas aqui, não é mesmo? E não, não estou estimulando ninguém a piratear, só estou atestando uma realidade. Ninguém mais tem motivos para reclamar que gastou um dinheirão num jogo que rende poucos dias de diversão.

Como o jogo não enrola muito, a trama é bem enxuta e movimentada. Ela se divide em duas partes, quase como dois mini-RPGs em um mesmo pacote. Quando a primeira metade termina, você tem a nítida impressão de que o jogo terminou. Aí vem a segunda metade, e parece que você está começando um jogo novo. É bem legal mesmo, até nos meus RPGs favoritos eu consigo apontar vários momentos de tédio na trama, mas aqui, parece que a Sunsoft só colocou no CD o que tinha que colocar, sem ficar enchendo linguiça. Em momento algum Albert Odyssey fica cansativo, você se diverte de ponta a ponta.

Olha só a cara do inimigo depois de levar uma bordoada, he he…

A economia também é positiva no cast de personagens. São poucos, mas todos muito bem trabalhados e carismáticos. Você nunca tem que escolher quem vai “pro banco”, todo mundo está brigando junto o tempo todo, do início ao fim. Com isso, todos os personagens acabam sendo muito bem desenvolvidos. Os itens estão disponíveis em uma boa variedade, mas não afogam o jogador em um oceano de possibilidades, a coisa é feita na medida certa. Enfim, ainda bem que Albert Odyssey é curtinho e econômico, fugindo aos excessos tão comuns no gênero. Eu só acrescentaria umas sidequests aqui e ali, porque de resto está de muito bom tamanho.

Pela beleza de ser essencialmente um RPG de 16 bits que usa o poder de um console de 32 bits, e pela sobriedade geral da trama e da jogabilidade, eu recomendo fortemente que a turma da antiga dê uma conferida em Albert Odyssey no Sega Saturn. Poucas vezes eu tive uma jogatina tão prazerosa no gênero. Tirando a complexidade do último labirinto, este joguinho não me fez ter vontade de jogar o controle na parede e nem facilitou demais as coisas para mim. Ele simplesmente flui bem e dura o suficiente para que você “encerre os trabalhos” dizendo que a experiência foi ótima do início ao fim. A gente fica até se perguntando se outros jogos do gênero não deveriam ser um pouco mais curtinhos…

Albert Odyssey, um RPG à moda antiga para o Saturn

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