“Para quem quer fazer exercícios de reflexão”
Olá crianças!
Enquanto redigia minhas dissertação de mestrado, esbarrei em um excelente livro chamado simplesmente “Videogames”, escrito por James Newman. De muitos dos livros acadêmicos e não-acadêmicos que tive o prazer (e em muitos casos o desprazer) de ler, este sem dúvida foi um dos melhores com relação direta à área que estudei (outros da parte de psicologia, filosofia e metodologia foram melhores em outros aspectos, mas isso não vem ao caso aqui, por enquanto).
A razão dessa leitura ter sido (e ainda ser) tão prazeirosa é que o livro parece ter sido escrito com uma questão muito simples em mente: o que é videogame afinal de contas? Que é, inclusive, um questionamento meu que surgiu durante a redação da dissertação e que estou tentando no momento transformar em um livro. Agostinho de Hipona (filósofo famoso do século IV) dizia que sabemos muito bem o que é o tempo até que alguém nos peça para dizer o que ele é; com jogos, e mais especificamente videogames, é a mesma coisa que ocorre. É tão óbvio e certo para nós o que são, mas quando nos pedem uma definição, a língua e a mente enrolam-se de tal forma que ou não respondemos coisa alguma, ou respondemos alguma coisa que sempre nos parecerá imperfeito.
Acima, a maior imagem que pude achar da capa do livro.
Este livro é interessante porque, com esta pergunta, ele passeia com suavidade e coerência por diversos aspectos desse fenômeno que muito nos interessa. Fala tanto dos primórdios até eventos mais recentes da história dos videogames, como também de seus jogos, de game designers e, claro, de jogadores. Ou seja, não é um livro “bonitinho” cheio de nostálgicas imagens que nos fazem querer comprar somente pelas figuras; muito menos é um daqueles que buscam defender o videogame de ataques preconceituosos declarando-os uma nova forma de arte ou de mídia. Ele só quer saber algo simples: o que é videogame?
Nem preciso dizer que este questionamento suscitou em mim uma série de perguntas que acabo trazendo, direta ou indiretamente, para vocês todos. Em seu passeio, Newman esbarra na questão da definição dos gêneros de jogos. E é disso que queria falar com vocês. Será uma discussão introdutória já que pretendo falar mais sobre isto em outra oportunidade.
Imagino que tenham certeza de que os primeiros games e até mesmo os primeiros consoles não desenvolviam seus produtos tendo por base uma pré-definição do que ele seria. Somente se preocupavam em fazer um bom jogo. Por exemplo, Pitfall não foi pensado como um jogo de “aventura e ação” (action adventure) e nem Kung Fu Superkicks (ou Chuck Norris Superkicks) como um game de “briga de rua” (beat’em up). Talvez jogos com temática esportiva pudessem possuir como designação o nome do esporte em que foram baseados. Pong, por exemplo, seria um jogo de tênis; Enduro um jogo de corrida e assim por diante.
Acima à esquerda, uma imagem de Pifall; à esquerda, imagem de Chuck Norris Superkicks (nota: não deveria ser Super Roundhouse Kicks? :-P)
Newman nota que os gêneros de classificação de games surgiram por uma razão puramente pragmática. E não nasceu a partir do âmago de game designers, doidos por rotular aquilo que faziam, e sim de um “mercado intermediário”. Em primeiro lugar, os revendedores dos games queriam poder dividir suas prateleiras de alguma forma que não fosse alfabética e/ou por sistema de jogo para facilitar a organização e localização pelos clientes. E, por outro lado, a crescente e chamada imprensa especializada também ansiava por adjetivos bem característicos para organizar suas matérias e, claro, para poder usar aquelas frases bem clichês do tipo “melhor jogo de luta do ano!” que, dois meses depois, perde o posto para um outro jogo qualquer. Estas denominações surgiram principalmente em revistas inglesas como a Crash e Zzap!64. Supostamente, estes foram os primeiros periódicos a utilizar os termos parcialmente intraduzíveis “shoot’em up” e “beat’em up”. Nem vou dizer quais tipos de jogos eles designam porque são conceitos mais abrangentes que os nossos “jogos de tiro” e “jogos de luta”. Se quiserem usar o exemplo de que, antes dessas revistas alguns jogos já eram classificados de “adventures” (aventura), nem suo para responder que ao usarem esse adjetivo, não pensavam no gênero que hoje está cristalizado, mas somente se referiam ao fato do jogo ser uma aventura (como é, sem exceção, qualquer jogo).
Acima, capas das revistas Crash e Zzap!64.
Somente depois a indústria passou a adotar estas designações para fazer marketing de seus jogos e também para definir, previamente, que tipo de jogo uma equipe desenvolveria. Isso significa que, enquanto antes a idéia de gêneros de jogos servia somente para descrever games conforme as características que possuíam, agora passavam a ser prévios até mesmo ao desenvolvimento dos jogos. Por exemplo, Phantasy Star foi desenvolvido para Master System porque a diretoria da Sega pediu que fosse feito um RPG para o console (devido ao grande sucesso de Dragon Quest para NES, algo semelhante ao que foi feito pela Square com Final Fantasy). O parâmetro inicial era o gênero e não o jogo que, depois de pronto, até poderia ser chamado de RPG.
Hoje, não quero entrar no mérito do significado desses gêneros todos. Alguns, como Adventure e RPG, carecem de reflexões mais profundas. As quais, por questão de prioridade, ainda passam pela minha mente, mas sem a devida atenção que merecem. Para este post, basta que fique claro que o que chamamos de gêneros ou tipos de jogos antes serviam para classificar os jogos por laços e elementos em comum; algo comum em nossa vida cotidiana no trato com as coisas. Posteriormente, as empresas apropriaram-se disso para delimitar o tipo (ou gênero) de jogo que seria desenvolvido e, claro, para fazer propaganda. Esta é, inclusive, a razão do título que escolhi.
À esquerda, imagem de Final Fantasy que recebeu a alcunha de RPG antes de, de fato, sê-lo. À direita, matando nazistas em Wolfenstein 3D (um dos jogos que “inventou” o FPS).
Um exemplo bem claro disso, e que com certeza é bem evidente, foi a expansão dos jogos de tiro em primeira pessoa (First Person Shooter, ou FPS). Depois de Wolfenstein 3D e Doom, uma imensidão de empresas e jogos surgiram utilizando recursos semelhantes e, muitas vezes, melhorados. Seria errado afirmar que utilizaram esse gênero primeiro para designar um jogo inovador e que, depois, ele se transformou em um tipo de jogo a ser utilizado por empresas? Por exemplo, não se pensava mais em “fazer um jogo divertido sobre a Segunda Guerra Mundial em que se possa controlar o Eixo ou os Aliados”; a diretoria queria “um FPS sobre a Segunda Guerra”. O gênero, inicialmente um adjetivo formulado para um jogo, se tornou um padrão genérico de desenvolvimento.
E não pensem que isso somente aconteceu até o início dos anos 1990. Até hoje proliferam novos gêneros que ditam às empresas (e principalmente aos designers) o que devem fazer e como devem fazer um game. Usando exemplos nem tão recentes, alguns subgêneros utilizados também servem de parâmetro como o “Run’n’Gun” expresso, por exemplo, no game Gunstar Heroes para Mega Drive. Há ainda o “survival horror”, com ícones como Resident Evil e Silent Hill. Por vezes, a empresa tenta cunhar um nome que não vinga como o “Cinematic RPG” inventado pela então chamada Squaresoft para um de seus melhores jogos: Parasite Eve.
Acima, arte-conceito de Aya Brea feita por Tetsuya Nomura para Parasite Eve.
Claro, vocês devem estar pensando algo como: “Mas Gunstar Heroes não foi o primeiro desse estilo. E muito menos survival horror começou com Resident Evil”. Como falei, não quero hoje cair no mérito de discutir as origens dessa taxonomia gamística e seus galhos. Somente indicar, à guisa de introdução, algumas coisas a serem pensadas. Afinal, até mesmo na Academia é comum que se parta destes gêneros (e não dos jogos e dos jogadores) para se fazer pesquisa; o que é uma pena já que são adjetivos muito frágeis que não se sustentam por muito tempo. Não parece ser muitos seguro adotar tais definições como pressupostos. Por isso, essa reflexão é importante não só para nós, jogadores, mas também para investigadores e, por que não, para interessados pelo tema, para designers e pretensos desenvolvedores de jogos.
Fico hoje por aqui. Até o próximo post!
Eu sempre fui meio “contra” gêneros. Acho que nenhum gênero consegue expressar e classificar com perfeição um jogo.
Ao meu ver, a “taxonomia gamística” se encontra em crise. Um sintoma disso é a infinita proliferação de subgêneros e o surgimento de alguns jogos que desafiam os conceitos-padrão (tipos ideais?). Zelda TTP é RPG, Action ou Adventure? Mass Effect é RPG ou FPS? E como diabos podemos definir gêneros como “sandbox” e “survival horror” – para mim, exemplos terrífeis de rótulos?
Vejo alguma razão por traz desse raciocínio de que a indústria, e não os designers, criaram os gêneros. Rotular tornou a tarefa de copiar games de sucesso mais fácil, e também tornou o marketing mais abrangente. Hoje essa idéia já está incutida e seria difícil viver sem ela; as pessoas sentem necessidade do gênero para identificar com os jogos. Se não existisse o gênero RPG para eu poder falar que “gosto de RPGs”, o que eu falaria? “Gosto dos filhos de Dragon Quest”?
Bem, eu preferiria que os jogos fossem conhecidos por si próprios, e não agrupados sob um rótulo. Por isso gosto quando os desenvolvedores criam jogos que desafiam conceitos e não se encaixam em um gênero.
Quero ver os gêneros desafiados!
Hideto[Citar este comentário] [Responder a este comentário]
eu gosto de jogo de aventura, e não gosto de jogos de futebol…. opa, generos que são criados que funciona 😉
ação é um tipo de genero que eu não entendo XD
Edwazah[Citar este comentário] [Responder a este comentário]
Pingback:Tweets that mention Gagá Games » Academia Gamer: do gênero de um game ao game genérico -- Topsy.com
Isso vem muito da nossa condição humana de querer organizar e sistematizar o mundo. Precisamos de rótulos e padronizações, aplique a Teoria do Caos para perceber que games são simpesmente… games! E nunca vamos achar uma definição melhor.
Excelente texto! Gosto muito do seu estilo “acadêmico”. Não sei se você se recorda, mas eu comentei num outro post sobre estar fazendo minha monografia na aplicação da internet e dos jogos eletrônicos na concepção e aquisição da linguagem. Basicamente, aprenda melhor português e inglês jogando e navegando XD
Nessa pesquisa, encontrei, como que por milagre, uma publicação que foi lifesaver. (Não sei se acontece com você, mas sabe quando aparece do nada AQUELA fonte que você precisa pro seu trabalho? Então…).
Trata-se de uma publicação da revista Língua deste mês, onde ela defende algo muito parecido com o que você propôs… antes de serem divididos em “tipos” os games introduzem uma nova maneira de narrar, que se dá simplesmente pelo fato de jogar! Olha o link da matéria, achei que teve muito a ver http://revistalingua.uol.com.br/textos.asp?codigo=12149
Parabéns de novo.
Aglio[Citar este comentário] [Responder a este comentário]
Mas, afinal de contas, o que é videogame?
Tandrilion, o Matusalém[Citar este comentário] [Responder a este comentário]
Eu sou 100% a favor da classificação por gêneros. Acho que o termo classificar, de modo geral, é inerente à qualquer atividade humana. Não tem jeito.
Fazendo analogias: no cinema, temos a comédia, ação, drama, suspense. Às, vezes, nós saímos de casa para ir ao cinema em busca de um gênero, e não necessariamente um filme. Quem nunca foi à uma locadora e pensou “vou alugar um filme de comédia e um de ação.”
Na literatura, também temos classificações. Na Biologia, Química, Física e outras “matérias” escolares, também temos classificações.
E tudo isso, toda essa classificação, trabalha em cima da demanda, mas possui um objetivo maior:
Evitar o caos. Porque onde não há a ordem, prevalece o caos.
E muitas vezes, eu fui comprar jogos de PS2 e pensava “preciso de um jogo de luta, 1 de rpg e 1 de FPS”. Isso ajuda na nossa ordenação. E seria muito chato comprar um jogo de um estilo que odiamos, lembrando a enquete feita pelo Breder.
Obs.: essa Aya Brea está mais pra Aya Melancia. Ô loco, meu!
Elielson[Citar este comentário] [Responder a este comentário]
Eu também, por vezes me pergunto a mesma coisa. Acho que a taxonomia nos jogos pode ajudar e muito, mas de uns anos pra cá na maioria das vezes são criadas normatizações extremamente inadequadas, algumas totalmente sem sentido, pessoas que nem jogaram, talvez nem viram o jogo rodando criam esses rótulos por serem um termo em voga segundo alguns “profissionais da área de marketing”, isso é deprimente.
Adriano[Citar este comentário] [Responder a este comentário]
Sísifo, Kant, Agostinho de Hipona… quem precisa de faculdade quando temos a academia?
Quanto a rotular, acho normal. Tudo nessa vida é rotulável e, enfim, rotulado. Faz parte da natureza humana segmentar mesmo. E dá-le “jogo de navinha”! \o/
Onyas[Citar este comentário] [Responder a este comentário]
Acho que hoje seria um caos se não existice gênero para jogos, apesar de hoje em dia os jogos serem muito diferentes entre si e alguns iguais somente em alguns aspectos, ficaria muito dificil ou extramamente complicado caracterizar um jogo, Vamos ao exemplo de FF.
Vejamos assim: seria mais fácil dizer que FF é um Rpg, certo?
ou dizer que FF é um jogo que vc controla 4 personagens, que equipam vários equipamentos, quem evoluem e ficam mais fortes e blá blá blá…
Mas ai quando o negócio ta indo de vento em popa ai vem uma negada que se diz muito bem entendida e… avacalha?
Como o nosso amigo ali de cima disse:
“ação é um tipo de genero que eu não entendo”. E tem muitos outros por ai que não tem nada a ver.
Pois é resumindo tudo é o seguinte, Gênero(jogos, games) ruim com ele e pior sem ele!
Paladino222[Citar este comentário] [Responder a este comentário]
What is a game? A miserable little pile of secrets!
Sério, quanto mais familiar, mais difínil defini-lo, mas eu gostaria de saber a qual conclusão o James Newman chegou. No próximo post, talvez?
Diego[Citar este comentário] [Responder a este comentário]
Se não existissem gêneros os designers teriam muito mais liberdade para se concentrarem na experiência, porém é impossível aboli-los. A questão é: como adaptá-los?
Diego[Citar este comentário] [Responder a este comentário]
O pior de tudo é a retro-generalização: até o coitado do Sweet Home, que nada mais é do que um RPG com temática de terror, ganhou o rótulo de “Survival Horror”, pra mim, por enquanto (pretendo analisar isso um dia), equivocadamente.
O lado ruim do videogame ser tão popular e vendido hoje em dia (a não ser numa ilha continental chamada Brasil), superando em muito o Cinema, é essa linha de produção sistematizada, que prende a criatividade e o desenvolvimento a números de mercado e de (terríveis) gostos populares.
mcs[Citar este comentário] [Responder a este comentário]
Sobre rótulos, achei legal uma declaração do Ozzy Osbourne uma vez numa entrevista para a MTV americana sobre os tempos de Black Sabbath : “Eu nunca entendi porque éramos chamados de banda de heavy metal. A gente só queria tocar hard rock ! Eu nunca entendi esse rótulo, nem de onde veio. Éramos uma banda de blues, colocamos umas letras sombrias de terror, uns sinos tocando, trovões e nos taxaram de heavy metal, vai entender…”
É necessidade de dividir, catalogar mesmo. É muito fácil dizer que Super Mario é plataforma, Megaman ação e Doom fps do que taxar os três como aventura. Que não deixa de ser verdade para os três, mas fica muito genérico visto que os três games são bem diferentes entre si apesar do primeiro ter semelhanças com o segundo.
Construir games à partir do gênero é coisa de marketing mesmo. No caso da Sega com Phantasy Star, eles queriam algo para competir com os RPGs do Nes. As empresas de games acima de tudo são empresas capitalistas aonde o foco é resultados que gerem lucro para seus acionistas ou donos/sócios, não tem jeito. Então eles desenvolvem produtos para lançar no mercado. Muita gente às vezes não perçebe isso ou ainda se ilude na utopia de que todos na grande industria fazem games por amor.
Eu mesmo estou querendo desenvolver games e venho estudadndo pra esse fim faz um bom tempo. Defini o game que vou fazer pelo gênero, mas justamente por causa da complexidade técnica envolvida em alguns gêneros. RPG em terceira pessoa pra mim e meus colegas de loucura até então está sendo a melhor escolha porque a complexidade vai ficar por conta da programação dos scripts e a arte não vai ser tão trabalhosa. Se fossemos fazer um FPS, precisaríamos que os programadores tivessem conhecimentos avançados de computação gráfica, sacassem bem de geometria e etc. O mesmo valeria para games de corrida. Fora o pessoal da arte que teria de conheçer bem modelagem 3D. Poderíamos fazer um game de plataforma, mas queríamos uma história mais densa, com reviravoltas e o RPG é perfeito para isso. E queremos além de praticar e aprender fazendo, criar algo nosso, então por isso que não estamos interessados em engines já consagradas.
Ah, quando me perguntam o que é videogame, eu respondo : É um programa de computador desenvolvido com a finalidade de entreter ! 😛
Mas é claro que videogame é muito mais do que isso. É muita coisa ao mesmo tempo, é arte, é desafio, é reflexão…
Flávio de Oliveira[Citar este comentário] [Responder a este comentário]
Caramba, baita tema complicado!
O pessoal aqui nos comentários mesmo fica dividido entre ser a favor ou contra os gêneros. Concordo com anecessidade de se classificar para evitar o caos, mas há a consequência inevitável de reduzir o game àquela classificação.
É como quando saiu Driver. É um jogo de carro, mas não de corrida, algo muito raro na época. E era um jogo de ação cujo personagem principal era um carro. Como classificar isso? Se eu gosto de jogos de ação como, digamos Tomb Raider 2 (acho que era o que tinha na época), será que me sentiria satisfeito ao me deparar com um game que tem uma tendência principal de ação, mas eu preciso me preocupar com os problemas de controlar um carro (freio, ré, acelerar, os ângulos de curvas, etc.)?
Imagino que uma sensação parecida seja encontrar com um professor seu (seja de faculdade, colégio ou onde for) em um show ou uma boate. Algo parece fora do lugar. Mas está fora porque rotulamos aquela pessoa de professor e nem imaginamos que ele possa ser mais, por exemplo um baladeiro dono de alguma boate. Chamar Mega Man por exemplo de um jogo de ação é também ignorar que ele tem fortíssimos elementos de plataforma, com saltos precisos e tudo o mais.
Isso tudo sem entrar na discussão do que aconteceu com os gêneros com a entrada nos games em 3D.
E por que cargas d’água chamamos jogos de clicar nas coisas na tela e resolver puzzles de “adventures”??? Afinal de contas, como o próprio Senil disse, “mas somente se referiam ao fato do jogo ser uma aventura (como é, sem exceção, qualquer jogo).”
Gorin[Citar este comentário] [Responder a este comentário]
Opa pessoal! Eu costumo dar uma geral rápida em todas os comentários e depois dar uma lida mais atenta a cada um e responder individualmente. Mas, pelo que pude ver, ficaram mais na primeira parte do título. hehe Muitos de vocês falaram que a classificação é comum na vida e, claro, na ciência. Não discordo disso; temos que organizar as coisas para podermos lidar melhor com elas. A adoção de nomes de gêneros de games não é ruim per se; o ruim é que se partam deles para fazer os jogos. Foi esse movimento que quis trazer com o título; o de que os gêneros, antes aglutinações de características de determiandos games que iam saindo (e que não eram pensados como pertencentes a certos gêneros ou não), passaram a ser ponto de partida do desenvolvimento de games. Ou seja, serraram as pernas dos jogos para que coubessem nos gêneros; se não coubesse direito e quisessem dizer que era algo novo, inventavam um novo gênero ou ainda uma subdivisão. E todos eles são problemáticos; quero falar depois com calma de alguns deles em futurtos posts, mas dos que não derivam questões por traduções de termos em inglês, games de “esporte” e “aventura” são os mais complicados. Mas vou deixá-los curiosos por enquanto. hehe Agora… Vamos à atenção individual.
@Hideto
Não gosto muito de gêneros também. Mas é bem comum que os utilizemos. Quando me perguntam que tipo de game mais gosto, respondo na lata “RPGs”. É mais “prático”. O uso de classificações é, para usar outro conceito pragmático, útil. O problema é quando o designer, por exemplo, está amarrado a um gênero ao invés de uma ambientação, ou de uma idéia. Por isso que é bem fácil que um jogo tenha uma atmosfera, um enredo e personagens inovadores; mas pouquíssimos são inovadores em sua totalidade. E, quando o são, acabam definindo um novo gênero que, por sua vez, ditam o que deve ser feito sob aquela mesma égide. Embora seja comum que um mesmo designer explore um mesmo tipo de jogo por ser aquele que mais o agrada e que mais se sente à vontade para propiciar diversão; como PaRappa the Rapper e UmJammer Lammy.
@Edwazah
hehehe Vou me adiantar a outra coluna (que deve sair daqui a um mês só porque ainda estou escrevendo), mas tudo bem.
Mas jogar um game de ação não é uma aventura? Imagine só, se arriscar por um mundo que você não conhece, se arriscar a enfrentar dezenas (ou centanas) de inimigos que podem surpreendê-lo a cada minuto. Isso é aventura. E esse é, de longe o mais problemático gênero já criado. Até porque, se o usamos em português ou inglês designam coisas muito diferentes. Eu mesmo chamava o “RPG de turnos” de RPG-Adventure porque tinha Action RPG e o Tactical RPG e games como Phanatsy Star não é igual a nenhum destes. hehe Mas deixo esses pormenores para depois.
@Aglio
Claro que lembro. hehehe Estou querendo ler seu trabalho inclusive. Quando estiver pronto, não deixe de avisar. Ah, e valeu pelas congratulações!
Vou deixar o artigo para ler com calma depois; já tem vários comentários e me dispersaria um pouco se me dedicasse a ele.
E sei bem como é esse esquema de encontrar “a” fonte. hehehe felizmente, eu pude encontrar uma dentro da minha própria orientação de pesquisa. Uma que, inclusive, poucos usam. O que é uma pena porque é extremamente rica. Quando começar a falar do meu mestrado mais especificamente por aqui, isso deve ficar mais claro.
@Tandrilion, o Matusalém
huahuahuahauha Excelente pergunta.
Na introdução do livro, o Newman usa uma definição de um estudioso chamado Frasca como uam forma de orientação geral. Ele não se coloca diretamente essa mesma pergunta durante o livro; talvez ele tenha pensado que aquelas linhas citadas bastassem. Mas a impresão que tive é que durante o livro todo, ele se preocupou em descrever o que é videogame e esbarrou em vários fenômenos diferentes com relação a isso: o desenvolvimento de hardware; de software; o posicionamento das empresas; o marketing; o jogar videogame etc.
Eu não me arrisco a dar uma definição. É algo que ainda estou pensando. Não assumi nenhum posicionamento com relação a isso.
@Elielson
Yep. Não discordo de nada disso. Isso facilita muito as coisas. Sempre tenho o RPG que jogo no momento e “os outros” que são menores, mais ágeis ou que exigem menos paciência ou zelo.
Foi a melhor imagem que consegui encontrar (pela proporção de tamanho) para caber no post. Estava sem o jogo por perto para capturar uma imagem, então tive que apelar para o artbook mesmo. hehehe
@Adriano
Sim! O próprio “Cinematic RPG” que usei de exemplo ao final do post é mais ou menos para indicar isso que falou. O gênero acaba virando uma criação de marketing. Mas o passar do tempo não ajuda. Ação, Aventura, Esporte, Briga de Rua e outros são bem antigos e muito pouco representativos hoje. Nem mesmo a mescla de elementos tem ajudado. O que tem de jogos aí “com elementos de RPG” é brincadeira… E às vezes esse “elemento” é um HP, MP, a possibilidade de subir níveis e coisas do tipo. Mas de RPG mesmo, não tem nada. hehehe
@Onyas
Valeu pelo cumprimento cara! hehe Eu cito os autores para que, caso se interessem, leiam algo deles. Já descobri muitas boas leituras quando citam outros autores.
“Jogo de navinha” é legal porque não temos isso fora do país. Lá fora “Shoot’em up” engloba nossos “jogos de navinha”, mas não se limita a eles. Assim como “Beat’em up” envolve jogos de luta, mas também de briga de rua. É uma confusão só. hehehe
@Paladino222
Yep. Mas acho que o problema é que só repetir gêneros como jogadores e como designers acaba tornando-os em conceitos “mortos” porque não pensamos mais a quais características eles se referem em um jogo. O que torna Final fantasy um RPG? O que torna possível dizer que Borderlands tem “elementos de RPG”? O que quer dizer RPG afinal? hehehe Não digo definição, mas uma descrição do que é isso. Eu jogo RPG (eletrônico e de mesa), mas ainda não consegui estabelecer um link entre ambos os formatos. O que é essencial em um RPG para que Vampire e Dragon Quest sejam chamados por um mesmo nome? E essa é uma de minhas questões principais; e que ainda não cheguei a conclusão alguma. hehe
@Diego
Então, como falei acima, ele dá a definição de Frasca como Norte. Mas ele fala de tanta coisa que circunda bem melhor o fenômeno do que a própria definição que ele usou. Talvez fale mais dele depois, então é possível que fique mais claro.
@mcs
Exatamente! E isso é uma pena. Sinceramente, às vezes eu paro e penso que é até ruim que videogame seja um produto tão bem sucedido. hehehe Seria melhor se fosse algo que poucas pessoas realmente se importassem. Talvez fosse menos frenética a necessidade de sair jogando tudo que sai e pudéssemos aproveitar um jogo genuíno, como é, muitas vezes, se deliciar com um mesmo tabuleiro e peças de vez em quando com os amigos.
@Flávio de Oliveira
Disse muito bem E o exemplo foi bem pertinente. É importante mesmo pensar que a indústria só se sustenta por desejos que ela própria “enfia goela abaixo” dos consumidores. É triste, mas é verdade… tanto qeu o que mais critico hoje no mercado de games é a imensidão de jogos lançados a cada dia no mundo todo… Não é como um Banco Imobiliário que compramos uma vez (e pagamos uma boa grana hehe) e o usamos a vida toda; é como se a cada dia fosse lançado (e a cada dia comprássemos) uma nova versão de Banco Imobiliário (o Júnior, o do Bob Esponja, o da Disney, o com cidades do Mundo etc. – que, aliás, é o que acontece hehe).
Ser um designer de jogos envolve muito mais coisa, comn certeza. Comparações com arquitetos e escritores seriam ótimas formas de tentar entender melhor o que eles são, o que fazem e para quê fazem.
@Gorin
hehe Bom exemplo! OutRun é outro que penso neste sentido. É um jogo de carro, mas não de corrida. O próprio designer dele disse que queria fazer um jogo sobre dirigir (driving) e não de corrida (racing). E conseguiu. hehehe
Mas… Tomb Raider não é um jogo de Aventura? hehehe Está vendo só como o uso de gêneros é complicados? Nem sabemos mais o que eles querem dizer. Nem eu mesmo sei quando uso cada um deles. huahuahauhauhau
E, realmente, acho que todo jogo é uma aventura. “Adventure” é um péssimo nome não por não ter nada a ver com os jogos de “clicar e apontar” ou “visual novels”; mas porque é tão amplo que engloba, em última instância, todo jogo. Seja ele eletrônico ou não.
O Senil[Citar este comentário] [Responder a este comentário]
@O Senil
Pois é, esses lançamentos desenfreados, casuais e repetitivos que me deixam decepcionado com o atual mercado de games.
Antigamente era legal porque eram dois extremos (Sega e Nintendo) e uma desafiava a outra à criar algo melhor. Era um duelo constante e nessa época foram surgindo os padrões que vemos hoje. E sempre surgia coisa boa e diferente. Hoje em dia é uma industria mesmo, todo mundo pode lançar algo, os contratos para exploração de jogos nos consoles são mais brandos, o que permite que muito jogo meia-bomba seja lançado. Não há aquele comprometimento com a qualidade. Tipo : “Ah, vamos lançar assim mesmo, se não der certo a gente faz outro.
Atualmente eu acompanho pouco os lançamentos. Pouquíssima coisa me interessa. Tenho jogado mais emuladores ou games antigos de PC. Não quero games casuais, quero games com mais conteúdo, não quero “enlatados”. Um exemplo : Depois de Call of Duty, muito game pasosu à imitá-lo. Quando a fórmula segunda guerra mundial cansou e todo mundo ainda insistia, a Treyarch bagunçou geral com o Modern Warfare ! Resultado ? Mais cópias e agora esse Medal of Honor novo… Eu não ando com vontade de conferir esse MH reçente. Pelas imagens é um Modern Warfare. Se já tenho o Banco Imobiliário, pra que vou comprar o da Disney ? Se pintar a oportunidade de conferir, eu vejo, mas correr atrás disso ? Nem pensar.
Das empresas atuais eu dou muita atenção à apenas duas : A Nintendo e a Bioware. Esses sim pareçem que além de lançar “produtos”, gostam de fazê-los ! É sempre um game mais legal que o outro, com alguma inovação, com conteúdo, diferentes. E engraçado que a Bioware fez os Mass Effects por encomenda da EA. “Queremos um RPG com ação com FPS, espacial e tal”. E veja só o que o pessoal da Bioware fez…
Flávio de Oliveira[Citar este comentário] [Responder a este comentário]
@O Senil
Cara, sobre rpg’s de mesa: provavelmente vc já deve ter pensado nisso, mas eu acho que um elemento que é essencial a um jogo de rpg, que o diferencia de outros jogos de tabuleiro, é a possibilidade de formar uma equipe única contra um adversário ou grupos de adversários. E o desafio (ou meta) não é especificamente fazer mais pontos, e sim interpretar conforme as situações se desenrolam. Bem… eu acho que é mais ou menos isso.
Sobre o freio que os gêneros criam na liberdade de criação dos desenvolvedores, eu também concordo. Muitas vezes, vemos um jogo que possui potencial para algo diferente, mas no final ele torna-se mera cópia de sucessos recentes.
Um exemplo é o Sonic Unsleashed, em que simplesmente tranaformaram o Sonic num lobo e copiaram a jogabilidade de God of War. O resultado ficou estranho, e ficou estranho porque foi mal feito.
Também acho que não dá para ter uma classificação perfeita, que sacie todas as nossas exigências sobre um jogo. A complexidade dos games não permitem, como vcs bem escreveram. Mas… se um gênero consegue exprimir parte do que o jogo representa, e que com isso me dê uma noção do “gameplay”, eu já acho mais um benefício do que um mal a ser combatido. Um exemplo é o site do IGN, que divide os jogos do PS2 em gêneros. Muitas vezes, entrei nesse site para ter uma referência, saber quais eram os melhores jogos de cada gênero. E… funcionou pra mim, descobri muita coisa boa hehehe
Claro que essa é a minha opinião, a de um jogador e não de um desenvolvedor, mas… caramba! Adorei essa Aya Melancia, meu!
Elielson[Citar este comentário] [Responder a este comentário]
Faz parte da natureza humana catalogar, rotular e classificar. Acho que isso seja até necessário, porém não acho válido as milhares de ramificações que existe hoje em dia. Além de não serem nada práticas, confundem na maioria das vezes. Mas os rótulos usa quem quer. Falow!
piga[Citar este comentário] [Responder a este comentário]
@Flávio de Oliveira
Essa coisa de “lançar de qualquer jeito” nem é de hoje. Tem um jogo que uma empresa européia fez às pressas para poder ser lançado junto com o Playstation 2 por lá; e faltava muita coisa que os desenvolvedores queriam implementar.
Também acompanho pouco as coisas que têm saído. Dificilmente algo captura meu interesse. Uma única empresa que é recente e que parece estar fazendo bons jogos é a Level 5, mas mesmo assim, só joguei Jeanne D’Arc para PSP deles (que é, inclusive, um excelente jogo). No mais… Antes eu até corria atrás de novidades de algumas empresas (Sega, Camelot…), mas hoje nem ligo muito. hehe Dependo de amigos para me dizer o qeu tem saído.
@Elielson
Ah sim! isso é essencial em um RPG de mesa; mas a graça nesse desafio enfrentado em grupo é que você controla um só personagem e torce para que os outros inetrpretem e ajam bem. hehehe Em um RPG de videogame, é bem comum que haja um grupo (que não é regra), mas controlado por uma única pessoa (que também não é a regra). Por isso que falei que é difícil pensar nas semelhanças entre ambos os tipos de RPG.
Sim, a classificação é bem útil para encontrarmos e até conversarmos sobre os games. Afinal, eles descrevem um pouco do que se trata o jogo; o problema é esquecermos o que eles querem dizer.
Procure por as mãos no artbook de Parasite Eve então. hehehe Ele tem umas imagens bem legais.
@piga
Nem me fale em várias ramificações. hehehe Devem existir uns quinhentos tipos de RPG diferentes. hehehe E às vezes as diferenças nem são tantas assim. E, como falou, acaba confundindo mais do que ajudando.
O Senil[Citar este comentário] [Responder a este comentário]
Li na Wikipedia há alguns anos algo interessante a respeito de jogos de ação. “Ação” seria qualquer jogo que responde comandos em tempo real. Ou seja, jogos onde você interage diretamente com o personagem, e não através de comandos.
Por exemplo, jogos de luta, corrida, plataforma (estilo Super Mario) seriam todos jogos de ação. Jogos de RPG por turnos, RTS e Graphic adventure não são Ação.
Então Ação funciona mais como um Super-gênero.
Fernando Lorenzon[Citar este comentário] [Responder a este comentário]
@Fernando Lorenzon
Então, mas concorda comigo que sempre, e em qualquer jogo, há “interação em tempo real com os personagens e as coisas por meio de comandos”? hehe Não só em jogos, mas na nossa vida normal? Não é possível dissociar o copo em que você bebe água de você; do mesmo modo, você controlar uma peça de xadrez pelo mouse, com os dedos ou menus é uma forma de “interação” também. Mesmo que você pense muito antes de movê-la ou selecione uma “ação” por meio de um menu qualquer.
Acho que um outro termo além de “gameplay” que acho que diz pouca coisa nesse campo dos videogames é o de “interação”. Penso muito nesses dois e, quando achar que tenho o suficiente de dados para propor uma reflexão profunda sobre eles, eu faço uma coluna a respeito. Por enquanto, seria prematuro.
Mas, pela descrição que deu, “ação” seria mesmo amplo. Tão amplo que nem sei se chamaria de gênero. hehe O mesmo caso da “aventura” que acabei comentando mais acima.
O Senil[Citar este comentário] [Responder a este comentário]