Se você leu o nome desse jogo e deduziu que o herói era um tarado que só pegava barangas, errou feio: Cannon Fodder (ou “bucha de canhão”, em bom português) é um joguinho de guerra lançado para o Amiga em 1993. Mas calma, não vá embora, eu juro que não é um daqueles jogos complicados cheios de menus… Cannon Fodder é o jogo mais divertido que eu joguei nos últimos tempos!

Outro dia eu falei aqui no Gagá Games que estava interessado em conhecer melhor o Amiga, um baita computador lançado em 1985. O bichinho era poderosíssimo e logo virou uma máquina de jogos. Em termos técnicos, o Amiga dava uma baita coça no Mega Drive (e até no Super Nintendo sob certos aspectos). Dei uma pesquisada nas listas de clássicos dele, e o mais acessível para começar a conhecer a máquina me pareceu ser Cannon Fodder. Putz, isso é que eu chamo de tiro certeiro.

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Muitos tiros, explosões e gente sangrando. E ainda tem senso de humor! É perfeito!

O jogo foi lançado pela Sensible Software (a mesma do clássico Sensible Soccer). À primeira vista, ele lembra um RTS (jogos de estratégia em tempo real, como o Warcraft original ou Command and Conquer). Só que aqui as coisas são mais simples: você controla um grupo de soldados em uma série de missões, coletando armas e eventualmente pilotando veículos. E só, nada de construir bases, gerenciar recursos, nada disso.

Quando a ação começa, você clica com o mouse para fazer seu grupo de soldados andar. Pintou um inimigo? Dê um clique direito nele: a mira vai aparecer e seus soldados vão fuzilar o sujeito. O sangue jorra, o cara se esgoela de agonia e é tudo muito, muito engraçado.

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Eu fiquei na dúvida do que era esse treco marrom. Separei um soldado e mandei o sujeito até lá. Como vocês podem ver, era areia movediça 🙂

Engraçado? É, isso mesmo! O lance é que o jogo tira um baita sarro da guerra. Não é violência gratuita, é uma crítica social mesmo. Isso fica bem claro na abertura, que exibe fotos da equipe de desenvolvimento do jogo posando de Elvis Presley e James Dean, enquanto a música “War has never been so much fun” (ou “a guerra nunca foi tão divertida”), composta por um dos programadores, é cantada alegremente. Sim, cantada, eu falei que o Amiga era poderoso.

A música tema de Cannon Fodder, no Amiga

Às vezes você atira em um inimigo mas ele não morre: fica agozinando, gemendo, gritando, deitado no chão, ensopado de sangue. Acontece que os gráficos pequenos e caricatos dos soldados na hora do combate tornam a coisa toda muito engraçada, por mais sádico que isso possa parecer.

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Não dá para atirar dentro do rio, fazendo de você um alvo fácil para o inimgo. Pode ser interessante deixar um soldado dando cobertura na margem enquanto seus soldados atravessam

Embora a jogabilidade seja bem simples, você vai precisar criar estratégias para passar de certos pontos. Eu perdi um tempão numa fase em que inimigos saíam de um buraco no meio do mapa e volta e meia me atacavam pelas costas enquanto eu avança por outras áreas. O truque era deixar um soldado lá, paradão, do lado do buraco. Quando alguém sai, ele fuzila automaticamente.

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A versão de Mega Drive até que faz bonito...

Como deixar um soldado lá de plantão, separado do grupo? É só clicar nos nomes dos soldados no lado esquerdo da tela e dividi-los em grupos. Isso é útil, por exemplo, para encurralar inimigos — você deixa dois soldados estacionados nos fundos e ataca com dois pela frente. Mas o engraçado mesmo é quando, diante de um grupo de inimigos claramente mais numeroso e poderoso, você manda um único soldado solitário servir de bucha de canhão para em seguida entrar com o outro time, detonando os inimigos que estavam ocupados demais enchendo o seu pobre soldado de balas — vê-se que o nome do jogo não foi escolhido por acaso.

Quando a missão termina, uma musiquinha de circo começa a tocar, enquanto seus soldados pulam com empolgação. Na tela seguinte, em volta de uma colina, você vê uma nova fila de soldados chegando para se unir ao seu exército, no maior clima de “legal vamos nos divertir”. Só que ali mesmo, naquela colina, cruzes marcam os túmulos dos mortos em combate, enquanto um placar no alto da tela mostra quantos inimigos você matou e quantos soldados seus foram mortos (os lados são indicados como “time da casa” e “visitantes”). Mais irônico do que isso, impossível.

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Essa cena merecia um quadro

Na época, houve quem criticasse a violência do jogo. Sei que a questão da violência gratuita em jogos como GTA é bastante polêmica, mas o caso de Cannon Fodder é totalmente diferente. A violência aqui está muito longe de ser gratuita. Somado à irônica música tema do jogo, ela só serve para reforçar a ideia de que a guerra é algo muito, muito estúpido. Ou, como consta na última página do manual do jogo:

“A guerra, como Cannon Fodder ilustra com seu jeito esquisitoide, é um desperdício sem sentido de vidas humanas e recursos. Esperamos que você não tenha que aprender isso da pior maneira.”

Ficou tentado a dar umas partidinhas? O melhor emulador de Amiga que eu conheço é o UAE (roda em Windows, Linux e MAC), mas você pode preferir o WinUAE (versão especial e incrementada para Windows). Claro, você ainda vai precisar dos discos do jogo, cada um se vira como pode… a versão para PCs está à venda no GOG.com por seis dólares, mas aviso que ela é claramente inferior à do Amiga. E se esse negócio de computador for muito complicado para você, há versões para o Mega Drive e o Super Nintendo, dentre outros consoles. Essas duas versões não batem a do Amiga, mas são muito boas (a versão de SNES, curiosamente, também é bastante violenta). O maior problema nas versões para consoles é a falta do mouse, embora a de SNES seja compatível com o mouse lançado para o console.

Se todos os jogos de Amiga forem bons desse jeito eu vou ter sérios problemas para cumprir prazos no meu trabalho…

Cannon Fodder: a guerra nunca foi tão divertida
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