Quer jogar um bom CRPG das antigas em primeira pessoa, mas não tem tempo/saco para desenhar mapas o tempo inteiro? Então segura aí que o Gagá vai dar uma boa dica agora.
No ano passado eu comprei o pacotão Might & Magic no GOG.com. São seis RPGs enormes, e que exigem que você desenhe mapa para tudo. Imagine um jogo onde as cidades, o campo, literalmente TUDO seja um labirinto do primeiro Phantasy Star. Você tem que fazer mapas o tempo inteiro, do contrário vai acabar se perdendo nas próprias cidades. Isso não é necessariamente ruim. Eu acho extremamente gratificante desenhar mapas, ir criando um guia para aquele baita mundão, só que passei semanas no primeiro M&M, desenhei pilhas de mapas e mal consegui chegar à metade da aventura.
Mas eu sou brasileiro e não desisto nunca. Disposto a terminar ao menos um CRPG em primeira pessoa na vida, comprei a trilogia Ishar no GOG.com. Parecia loucura, porque tinha gente dizendo que o jogo era difícil… honestamente? Perto de Might & Magic, Ishar (ao menos o primeiro da trilogia) é pinto, e muito divertido.
Lançado em 1992, Ishar: Legend of the Fortress deixava de lado essa coisa de “o mundo é um labirinto cheio de corredores estreitos” que dominava os CRPGs da época. O cenário é um campo aberto, dividido em 18 regiões, compostas por muito mato, árvores e rios. Dá para se localizar fácil, fácil, graças à bússola e ao fato do jogo indicar o nome da região em que você está. Não é preciso desenhar mapas dessas áreas, que compõem a esmagadora maioria do terreno que você vai cobrir: basta dar uma boa vasculhada de ponta a ponta em cada região e anotar numa lista simples o que tem por ali: pequenos vilarejos, cidades, comerciantes etc.
Se você se sentia claustrofóbico em M&M, o ar puro de Ishar vai fazer muito bem aos seus nervos
O jogo em si não é difícil, o complicado é entender como ele funciona, porque o manual é incompleto e há pouco material de referência na internet (especialmente em português). Portanto, vou dar uma forcinha aqui e explicar qual é a do jogo.
Para começar, a trama: um grupo de heróis derrotou o terrível Morgoth há alguns anos. Jarel, príncipe dos elfos, foi o líder desses heróis, e governou o povo com sabedoria por anos. Só que o homem acaba morrendo em circunstâncias nebulosas, e o reino vira uma zona. Vários espertalhões tentam se aproveitar da confusão, e um tal de Krogh acaba crescendo em poder e influência. Ele constrói o templo de Ishar, e de lá comanda um reinado de trevas e cabe a você triunfar sobre o mal e ZZZZZZZZZ… é, eu sei, traminha básica essa, mas o jogo é bacana.
Logo no início você vai chegar a um pequeno vilarejo. Todo vilarejo tem uma taverna, onde você pode fazer quatro coisas diferentes: comer (restaura PHY, sua energia física), dormir (restaura PSY, sua energia mágica), conversar (para saber dos “babados” locais) e recrutar (para trazer para seu grupo guerreiros, magos e afins que estejam na taverna).
O sujeito está sendo servido por uma moça peituda de biquíni e ainda reclama da vida? Vai entender…
Note que PHY não é a mesma coisa que HP, que tem uma barrinha em separado. PHY é sua “disposição”. Quanto mais anda e ataca, mais o PHY diminui. Quando ele fica baixo, você começa a errar muitos golpes, e se ele zerar você morre de fome. Portanto, coma regularmente na taverna ou compre uns pacotes de comida para viagem. Já o PSY diminui quando você usa magia.
O lance de recrutar é onde as coisas começam a ficar interessantes. Há um vasto leque de aventureiros espalhados pelas tavernas e também pelos campos abertos. Você começa sozinho e pode recrutar quem quiser, mas se reunir uns dois ou três aventureiros de alinhamento bondoso e tentar recrutar um personagem malvado por natureza, o grupo vota e pode embarreirar a coisa toda. Nesse caso, ou você deixa pra lá ou simplesmente mata quem votar contra! Claro, isso pode gerar uma reação em cadeia, com outros personagens tomando as dores do sujeito que morreu, e aí você é que pode virar presunto. Vale lembrar que a mesmíssima coisa pode acontecer se você tentar dispensar alguém do seu grupo.
O bicho pega nos combates. Use os atalhos de teclado, senão você vai levar boas pauladas enquanto navega pelos menus
O combate pode ser feito via mouse, clicando no comando ATTACK de cada personagem na parte inferior da tela, mas atacar assim é um horror. É um clique-clique danado, você certamente vai clicar no lugar errado… felizmente as teclas F2, F4 e afins funcionam para que cada personagem ataque. Pela minha experiência, é mais vantajoso ter só dois ou três guerreiros atacando, e posicionar na fila de trás um clérigo e um feiticeiro. Comigo, isso aí funcionou que foi uma beleza. Outra dica: mande seus magic users escreverem uma runa com a magia mais usada. Isso gera um atalho para invocar a magia, bem mais prático do que ter que percorrer o menu inteiro em pleno combate para escolher o encantamento.
Você ganha experiência e grana matando monstros, é claro. E você vai precisar, porque tem que PAGAR para salvar o jogo. Holy shit! A grana pode ser usada em novos equipamentos, em itens variados e em treinamentos. Há vários locais de treinamento diferentes espalhados pelas cidades: um para agilidade, outro para inteligência, outro para força… eles aumentam as estatísticas correspondentes, mas custam dinheiro e podem falhar, então você vai precisar de bastante grana.
Pensou que não tinha labirinto, é? Se lascou. E olha o tamanho do bicho que está dentro de um deles. Atenção para o ícone do pergaminho nos três personagens: é o atalho para magia criado com a escrita de runas
Magias também são aprendidas de forma semelhante, em escolas de magia. Tenha em mente que algumas magias são exclusivas de certas classes. É altamente recomendável ter um feiticeiro capaz de aprender Lightning, que ataca grupos inteiros de monstros. Eu recomendo que você recrute o UNKNOWN, que está na primeira ou segunda taverna do jogo. De resto, olho vivo, pois alguns personagens são traidores, e podem fugir com sua grana enquanto você dorme. Como os personagens logo chegam ao nível máximo, você pode trocar bastante os integrantes do grupo sem esquentar muito a cabeça com o lance de ter que avançar do primeiro nível com eles.
Há várias missões muito legais a serem cumpridas, a maioria em ambientes abertos. Para conseguir os anéis que vão protegê-lo do fogo do dragão, por exemplo, você terá que matar o homem-lagarto invisível da floresta. Como você vai encontrá-lo? Simples: quando estiver passeando pela floresta e começar a ser atacado por alguém invisível 🙂 Pegando dicas pelo jogo, você vai ver que é melhor ir atrás do bicho só quando conseguir o elmo mental, que permite enxergar o lagarto, mas se preferir pode simplesmente aprender a magia de detectar invisibilidade. Quase tudo no jogo pode ser feito de várias maneiras diferentes, e essa liberdade de ação é um trunfo que a maioria dos CRPGs têm em relação aos RPGs de console.
Olha lá o lagarto invisível de Fimnuirh, crente que eu não consigo enxergá-lo com meu elmo mental…
Labirintos mesmo são só dois, e aí eu recomendo que você faça mapas. Só fique esperto, porque há puzzles ligeiramente complicados. O primeiro labirinto tem um lance maldoso e você pode ficar preso se tomar o caminho errado, então lembre de deixar um save do lado de fora.
O jogo em si não tem situações irreais que exijam a consulta a guias e “detonados”, mas não é mamão com açúcar. Eu acho a dificuldade simplesmente excelente, muito bem equilibrada. O truque está em estudar bem o manual, e investir algum tempo no conhecimento das poções que você pode preparar (no meio do jogo, você encontra informações sobre algumas delas e como prepará-las). Em muitos casos, o seu arsenal de poções é a chave para solucionar os mistérios que o jogo apresenta.
Quem estiver acostumado aos JRPGs de consoles vai ver que há muita coisa a se admirar em CRPGs como Ishar. A liberdade de ação e a sensação de estar realmente explorando um mundo são muito fortes. Eu achei o jogo muito divertido e bastante acessível, ao menos em comparação a outros CRPGs que joguei. A trama é simples mas a imersão é grande, e você certamente vai ficar muito empolgado quando finalmente entrar no templo de Ishar para enfrentar seu algoz. Eu recomendo.
Este é só o primeiro jogo do pacotão. A trilogia Ishar completa, mais o prequel Crystals of Arborea está à venda baratinho no GOG.com. Compre já!
Ai, ai… Tantos RPGs, e tão pouco tempo para jogar…
Ótima dica ,Gagá! Ando na secura de jogar algo assim. Foi para a wishlist do GOG.
fredtoy[Citar este comentário] [Responder a este comentário]
Pingback:Tweets that mention Gagá Games » Ishar, um CRPGzinho bacana para variar -- Topsy.com
Esse Ishar seria perfeito não fosse por uma coisa: esses menus na tela, Poxa! Pelo menos o jogo tem um colorido q M&M [deu fome agora] não tem. Vou anotar pra dar uma conferida no futuro… 😀
PS: Gagá tenho duas perguntas:
1- Vc já esperimentou a versão de NES de MM1? Eu peguei essa pq achei os gráficos do PC meio “verdes” demais. Ele parece meio diferente do DOS. Vi um vídeo da versão de DOS e vc já comeca o jogo com 6 personagens enquanto no NES é apenas um. Seria legal tu me contar as diferencas pra eu já ir me acostumando [ainda não entendi qual é a do jogo, não sei pra onde ir]
2- E vc sabe de algum site q já tenha esses mapas de MM1 prontos? É pq do jeito q vc diz q o jogo é já dá uma “brochada” em saber. Tira a vontade de jogar [ainda mais q eu não consigo sair da 1ª cidade].
Lucas Vinícius[Citar este comentário] [Responder a este comentário]
@Lucas Vinícius
Não sabia da versão do NES, agora fiquei muito curioso para experimentar… acredito que seja mais fácil que a do DOS, mas vai saber, né?
Eu fiz um post contando sobre uma passagem do M&M1:
http://www.gagagames.com.br/?p=9365
Ao menos no PC a gente não sabe muito bem para onde ir mesmo. O lance é ir explorando o mundo, ir conhecendo os lugares, e aí você vai sacando possíveis objetivos. Por exemplo, ao tentar entrar no castelo eles dizem que só mercadores podem entrar, aí você começa a procurar algo que te faça passar por um mercador… só que as possibilidades de exploração são imensas, coisa de louco. O Ishar é bem mais “digerível”, embora eu tenha me apaixonado pelo M&M1.
Quanto aos mapas: http://mightandmagicgrove.com/mm1/maps.htm
Orakio Rob, “O Gagá”[Citar este comentário] [Responder a este comentário]
Ei Gagá vamos dá um tempo nos rpgs aí cara, eles tão só se acumulando aqui no meu pc, meu HD ja está lotadiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiinho, acho que se eu fosse tentar zerar tudo levaria no mínimo uns 50 anos e olha que eu não tenho esse tempo todo não.(já tou passando dos 33).
Paladino222[Citar este comentário] [Responder a este comentário]
Cara, de uns tempos para cá eu tenho caído de cabeça nesses CRPGs ! Depois que conheci a série Elder Scrolls no quarto jogo, eu pirei e procurei por games parecidos e cheguei na origem : O M&M ! Esses games promovem um grau de imersão fantástico ! Depois de passar uma tarde jogando isso, pareçe até que você voltou de um mundo mágico e fantástico. E sempre que possível procuro games assim, ainda mais em primeira pessoa.
Tenho que conheçer a série Ishar, já estou de olho nela faz um tempinho desde que recebi o e-mail de divulgação do GOG…
É uma pena que o estilo esteja meio “fora de moda” ultimamente, até porque o tempo de desenvolvimento deles é absurdo para entregar um game dessa complexidade com o mínimo de bugs.
@Orakio Rob, “O Gagá”
Ih, a versão de NES é bem bacana, se não me engano o game é de 1989. Tem vários efeitos maneiros, gráficos melhorados, mas com sprites menores, música rolando. É um RPG bonito de se ver no NES. Só não joguei mais além pra saber da dificuldade. Ah tem uma versão para PC Engine CD tbm muito bem feita, com uma introdução legal, mas tá tudo em japonês e nunca achei uma tradução da iso para qualquer idioma que fosse. Fora que existem versões dos games posteriores para o próprio console da NEC, Mega Drive…
Flávio de Oliveira[Citar este comentário] [Responder a este comentário]
@Orakio Rob, “O Gagá”
Cara, tô quase desisitindo, acabei de testar e os mapas tão ligeiramente diferentes… Tô comecando a achar q a versão de NES é beeeeem diferente mesm. Mas vou tirar um dia pra explorar ele a fundo…
E gagá tenho outra pergunta: na versão de DOS vc já comeca o jogo com aquela magia q diz onde vc tá no mapa? Pq no NES eu não encontro essa magia, tem q comprá-la ou algo assim?
Lucas Vinícius[Citar este comentário] [Responder a este comentário]
Começa com ela sim, é a magia Location que só os sorcerers têm. No PC, eu aperto C para invocar magia, 1 para nível 1 e 7 para magia Location (ou seja, é a magia 7 do primeiro nível). Você ganha magias de outros níveis quando ganha EXP e avança de nível, ou seja, sorcerer de nível 2 ganha magias de nível 2. Para saber quais são as magias, acho que só com o manual do jogo em mãos mesmo.
Orakio Rob, “O Gagá”[Citar este comentário] [Responder a este comentário]
Gagá, que jogo bacana meu velho! Um Diário disso seria muito bem vindo. Adoro descobrir RPGs novos e obscuros e esse parece ser ótimo!
Cosmão[Citar este comentário] [Responder a este comentário]
Nunca joguei este game, mas ao ver as fotos, lembrei de uma época que eu jogava The Legend of Kyrandia. Bons tempos… (saudade mode on) 🙂
piga[Citar este comentário] [Responder a este comentário]
@piga Legend of Kyrandia, joguei ele na época até o final, lembro de ter desenhado mapa de uma dungeon (acho que era uma mina ou uma caverna) bem perto do fim! Demais!!! Eu não lembrava mais disso e a imagem do mapa no caderninho veio à memória, foi com caneta vermelha! Curioso que era um adventure, e tinha alguns labirintos à la RPG mesmo. Valeu pela lembrança!
Ah, acompanhei cada screenshot da jogatina do Gagá e também comprei a trilogia, que está devidamente congelada por enquanto. Nunca conseguia terminar estes RPGs ocidentais de MS-DOS na época deles: Might and Magic, Ultima Underworld e tantos outros eram fascinantes mas difíceis, principalmente quando se tem 10-12 anos e pouco domínio da língua.
O Ishar é apetitoso. Só de olhar as imagens e o clima destes RPGs dão
uma água na boca danada!
Eric Fraga[Citar este comentário] [Responder a este comentário]
@Eric Fraga
Podes crer. Eu só conseguia terminar estes jogos com ajuda de revistas. Foi assim durante muito tempo, pois como eu era gurí, não tinha domínio de inglês, pensando bem, ainda não tenho! 🙂
Falow!
piga[Citar este comentário] [Responder a este comentário]
O jogo parece ser ótimo, vou ver se consigo dar uma olhada. E fico esperando que você analise o segundo jogo dessa trilogia.
Felipao[Citar este comentário] [Responder a este comentário]
Como eu joguei esses jogos nos “velhos tempos”, hoje em dia acho difícil aguentar. Poucos CRPGs anteriores ao primeiro Fallout me interessam hoje em dia.
Lembro vagamente de Ishar mas eu achava o combate muito chato, acho que isso me impediu de ir mais longe no jogo. Considerando o número de jogos que eu tenho para jogar ainda (muitos velhos, alguns novos), acho difícil eu estar tão desesperado para jogar que tenha que recorrer a esses CRPGs de primeira pessoa sem história 🙂
Mas o post é bem interessante, só não gosto muito do jogo.
tautologico[Citar este comentário] [Responder a este comentário]
Faz lembrar Lands of Lore! Joguei esse jogo um tempão até chegar numa parte impossivel.. alguem já zerou Lands of Lore?
Fernando[Citar este comentário] [Responder a este comentário]