Faz séculos que não posto algo na série Shooter que me pariu, mas eis que o GOG me solta este joguinho de nave horizontal do Neo Geo por um precinho camarada, daí eu pensei: por que não? 

Antes de mais nada: não tive Neo Geo, nunca fui rato de fliperama e estou conhecendo Blazing Star agora, então este post é livre de nostalgia. Bom, talvez haja uma nostalgia indireta, porque nos velhos tempos eu era do contra e amava jogo de navinha horizontal (parece que a turma prefere navinha vertical, ou não?). Você aí, que é fera em Neo Geo, talvez conheça outro jogo chamado Pulstar; pois bem, o Blazing Star é meio que sequência dele.

O bom e velho jogo de navinha na horizontal… os fãs de Aleste vão me desculpar, mas eu prefiro assim

Sobre este port: a DotEmu adaptou o jogo para computadores através de emulação. Na pasta da instalação, você encontra a ROM do jogo zipada, bonitinha. Muita gente reclama dos ports da DotEmu; eu não manjo o suficiente para avaliar a qualidade geral da adaptação, mas num jogo de navinha velho cheio de pixels que eu vou jogar na TV com resolução bem maior que a original, scanlines fazem falta. Como não tem opção de scanlines no pacote da DotEmu, instalei o emulador MAME Plus aqui, rodei a ROM por ele e acionei o filtro de scanlines.

Configurar o MAME pode ser bem complicado se você não souber o que está fazendo, mas honestamente, se você só quiser jogar mesmo e não for muito fresco que nem eu, pode rodar o port da DotEmu direto pelo GOG, sem complicações, que você não vai se arrepender. Tem mais umas pequenas bizarrices, tipo não ser possível redefinir os comandos do joystick/teclado, mas nada grave, o negócio funciona bem. Ah, tem save states também, para quem curte, e a possibilidade de escolher quantidade de vidas e o nível de dificuldade.

Morre, desgraçado!!!

Chega de papo furado, vamos ao jogo. Blazing Star é muito competente naquilo que se propõe a fazer: tem bons gráficos, boa música, ação frenética e alto desafio. O estilo lembra um pouquinho R-Type, com toques de outros jogos aqui e ali. Tem, inclusive, uma história muito louca que não é contada no jogo em si, mas sim no manual japonês. O manual não está incluído, mas li sobre esse babado no HG101 e eles indicam esta tradução maneiríssima da história, do perfil dos personagens e até uma pequena entrevista com o desenvolvedor. Vale a pena conferir se você curte histórias birutas e complicadíssimas para jogos que a gente não espera que tenham história nenhuma (Radiant Silvergun mandou lembranças). Basicamente, uma guerra entre dois planetas resultou na criação de armas inteligentes que, é claro, acabaram dominando a humanidade e transformando todo mundo em demônios. É mais ou menos o que vai acontecer com a gente em breve.

O jogo não tem assim um grande diferencial específico. O mais próximo disso talvez seja o recurso de cancelar o tiro especial carregado: se você soltar o tiro carregado e, no meio da execução, apertar o outro botão, o especial vira outra coisa mais poderosa, mas isso impede você de carregar o tiro novamente por alguns segundos. Ah, sem moleza aqui: nada de bombinha que mata todo mundo na tela para você usar no ápice do desespero. Tá achando difícil? Então chama um amigo que dá para jogar de dois.

Os mechas querem o sangue do Gagá!

A coisa que mais me agradou foi a variedade de naves. São seis à sua escolha, e cada uma tem um estilo bem diferente da outra. Temos a nave de tiro forte concentrado, outra com tiro que varre a tela e até uma meio kamikaze, com tiro carregado que envolve a nave em chamas para que você se lance em cima dos inimigos (tipo Arrow Flash, para quem jogou).

Minha nave favorita é a última, que tem arsenal bem tradicional e escudinho ao estilo R-Type, mas foi o tiro carregado dela que me ganhou: normalmente ele é fraco, mas quando cancelado, gera uma big explosão que, além de forte, afeta boa parte da tela. É muito divertido e até bem estratégico escolher o momento certo de cancelar o tiro carregado para causar o máximo de dano a um chefe, ou para limpar um pouco a tela de inimigos. Mas cancelou o tiro carregado, já sabe: tem que aguentar uns segundos de ressaca para poder carregar o tiro de novo. É empolgante usar esse ataque, mas também um pouco arriscado.

E mais mechas, porque eu que adoro mechas

Cada nave tem um estilo diferente e exige estratégias diferentes, o que te motiva a jogar várias vezes. Eu também gostei muito do desenho dos pilotos, é uma pena que não tenham colocado uns diálogos absurdos no meio das fases com os retratos deles na base da tela, como alguns jogos fazem. E isso ainda teria um charme especial aqui, porque Blazing Star tem uma daquelas traduções hilárias! Volta e meia pipoca algum texto na tela, e é “engrish” total, frases escritas em inglês por japoneses que obviamente não dominavam o idioma. Não chega ao nível de “All Your Base Are Belong To Us”, mas rende umas boas risadas também.

“O grandão tá chegando” é só uma das muitas pérolas tradutórias de Blazing Star

Vale lembrar também que o jogo tem inúmeras sutilezas, muitas delas relacionadas à pontuação. Por exemplo, o “event item” (basicamente uma bola com asas) aparece de tempos em tempos e dobra o ganho de pontos por alguns segundos. Se você não pegar o item, logo aparece outro de cor diferente que concede um bônus ainda maior. Mais um ponto curioso: se você pegar o event item e não disparar um tiro sequer enquanto o efeito dele durar, surge o “yume chan”, um item especial que faz com que todos os inimigos atingidos se transformem em power-ups por alguns segundos.

E daí? Bom, e daí que coletar power-ups não só fortalece seu tiro, como também aumenta seu “rank”, o que por tabela aumenta a dificuldade do jogo e a pontuação que você pode atingir. O rank pode ir até 255, e sem pegar nenhum yume, você talvez zere o jogo sem chegar nem na metade disso. Mas veja bem: segundo especulação da turma fera no jogo, seu tiro não fica mais forte depois do quarto ou quinto power-up. Se você continuar pegando power-ups depois disso, provavelmente só vai aumentar a dificuldade e a pontuação. Resumindo: o jogo é um paraíso para quem gosta de bater recordes. Existem mil maneiras de aumentar sua pontuação, e cada uma afeta sua maneira de jogar.

Sim, o jogo é difícil, como todo bom jogo de navinha. Não é impossível, não é bullet-hell, mas tem chefes grandões e momentos bastante intensos. Se você for hardcore, é possível zerar sem continues, embora isso provavelmente vá exigir algum esforço. Se quiser só curtir o jogo bem light, pode acionar os continues e apreciar a vista.

“Não me abandone, Gagá!”

Inovador? Revolucionário? Não, nada disso, mas Blazing Star é competente pra caramba. Se você procura um bom jogo de navinha horizontal para relembrar os bons tempos de Thunder Force, Gaiares e R-Type, taí o seu jogo.

Shooter que me pariu: Blazing Star (Neo Geo/PC)
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